segunda-feira, novembro 27, 2006

No limiar da Morte

Palpita detro de mim a tua realidade. Oiço-te no perturbado pensamento como única realidade que até ao fim me acompanha. No teu enigma, visivelmente te pressagio. Desde a primeira luz estiveste a meu lado como símbolo perfeito de perigo e rebeldia. Hierático no teu abismo, com a sua atração de tudo o que é ignorado, foste o maior desafio.

Cada dia que passa pactuas melhor com os meus sentido, tranquiliza-los, reduze-los, silencia-los neste estranho limiar onde me tens. Metódico e paciente exercitas o teu ofício. Ao despertar percebo o frio raso que deixaste na minha pele nublando as minhas memórias, derramando na mente a sede da tua substância. Sem ti não existiria o fulgor do efémero, nem a radiante intensidade que eleva, nem os sonhos seriam o fervor do futuro.

Por ti avança silencioso o reino que me acolhe. Tu és o escultor do instante, por ti invoco a terra, a avides do desejo, e até chego a pensar que és o próprio Deus; porque sem a tua presença só me restaria viver com tédio sem chama nem nostalgia, sem a sombra da vertigem que para o teu interior me empurra.

Spooky Love

Ele assusta-me. Assusta-me porque não sei nada sobre si. Na noite em que entrou na minha vida, trouxe o nevoeiro, o nevoeiro que eu fui aprendendo a amar, com o passar, do tempo, mas que no início me fez ficar parada, no mesmo sítio, assustada como um animal que se encontra, olhos nos olhos, com o caçador. Tentei manter a postura. Não podia dar eu sinais de fraqueza. Mas por dentro senti o meu coração pequeno. O nevoeiro que hoje amo como se tivesse sido sempre uma parte da minha vida cegou-me totalmente. Parada sem mover os meus pés, tentei tactear o mundo à minha volta para me orientar. Ao fim deste tempo já consigo amar a dúvida e a incerteza que ele representa.

Contudo, ainda me assusto ao vê-lo. O meu sangue ainda corre mais rápido nas veias quando sinto o seu toque, detecto o seu perfume, ouço a sua voz… Porque o risco é sempre risco. Nunca criará uma rotina. O meu mundo organizado caiu. Ele deu-me um novo mundo onde as regras são outras e não são do meu conhecimento. Mas a culpa foi minha que entrei nesse mundo e ainda consigo sorrir.

Tenho cada vez mais medo disto que está cá dentro e que não consigo saber o que é. E medo dele. De me magoar. De o magoar.