quinta-feira, fevereiro 01, 2007

123%

Sentei-me. Liguei o computador. Fiquei a olhar o fundo do ambiente de trabalho. Alguém me disse ‘Trabalha!’ e abri qualquer ficheiro. Fiquei horas a olhar para uma página em branco e vi a minha vida. Vi um caderno de folhas imaculadas à espera que alguém pegasse nele e o escrevesse, de uma ponta à outra, com canetas de vários tons de azul e traços de largura dispares.

O caderno não pode ser escrito por uma só pessoa. A vida é um livro cujos diferentes capítulos são escritos por pessoas diferentes, que acrescentam algo novo, que reforçam ideias, que completam raciocínios, que tentam apagar os parágrafos mal escritos, corrigir os erros de alguma forma… E nós o que fazemos? Nós escrevemos nos cadernos de outras pessoas, porque só assim faz sentido continuar aqui. Se não tivéssemos outros cadernos para escrever ninguém escreveria no nosso e era como se não tivéssemos existência, uma vez que ninguém tinha conhecimento dela.

No fundo somos todos escritores. Viemos ao mundo para realizar feitos literários, para escrever poemas nos intervalos da chuva, para descrever sorrisos iluminados pelo luar, para acrescentar virgulas e pontos finais em obras tidas como acabadas. Nem todos recebemos prémios no final, mas se a vida fosse justa não seria vida seria ilusão.

Os que recebem prémios são os que nos fazem reagir mais ao que escrevem. Os que nos arrancam lágrimas quando descrevem uma paisagem ou vómitos quando falar na existência. Os outros passam, escrevem, seguem o seu caminho, são felizes ou tristes, têm o nosso respeito mas ninguém quer saber deles…

3 comentários:

Anónimo disse...

K texto lindo...**

Leandro disse...

É verdade.
Somos aquilo que está nas páginas escritas por nós e pelos demais, principalmente por estes.
Nossa parte é a menor parcela, talvez a menos importante, daquilo que somos, porque nossa existência é dada precisamente pelos outros.

Anónimo disse...

gostei muito, muito do texto =) **