sexta-feira, março 30, 2007

Nothing else

Posso ficar velha e morrer sozinha, numa casa enorme, com a melhor das vistas. Posso morrer junto com as ondas do mar, que padecem na areia, mas guardarei para toda a eternidade o seu olhar e as suas palavras, junto ao barulho do mar e do seu vazio, em mim, no meu ser, na minha alma, no que é mais imortal nos seres. E chorarei, mesmo sem ter corpo ou existência física. Continuarei com esse legado para todo o sempre e, recordando o som de umas ondas que morreram comigo, lembrar-me-ei dos bons tempos da vida, de quando ainda tinha amor, dessas palavras e desses dois olhos.

Posso lembrar-me também dos corpos onde perdera o meu tentando encontrar-me e chorar. Chorar por pensar que nada tinha valido a pena. Ou chorar de saudades de todos e de cada um, por perceber finalmente, face à impossibilidade de voltar a sentir o mesmo, que tudo valeu a pena e que tinha sido mágico cada momento passado. Que todos os outros corpos tinham algo do meu e que o completavam e, se voltasse atrás, a vida só faria sentido se voltasse a sentir na minha pele todas as outras. Mas nesse momento, eu não sabia nada, não tinha certezas, não tinha dúvidas. Tinha apenas dois olhos que brilhavam e um sorriso que me dizia ‘Tu és capaz’ e não pedia mais.

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