terça-feira, março 17, 2009

Memorium Goticis

19 Abril 2003

Sabes uma coisa? Há bem pouco tempo tomei conhecimento do valor de tudo o que deixaste quando partiste para me dares a oportunidade de ser quem hoje sou. Como é grande este reino, este Império que carrego comigo, nas mãos, no coração. De um tamanho incalculável que às vezes até a mim me dá vertigens. Deixaste-me um casarão completamente decorado, onde não tive de fazer obras, apenas mudar uns objectos de lugar. Deixaste-me uma família completamente educada onde só tenho de ensinar os meus dons pessoais.

Hoje sinto que sou maior do que a casa onde habito e que muitos chamam corpo. E maior do que todos os limites que esses muitos possam impor. Por isso sempre que busco um porto de abrigo não encontro nenhum. Pode haver um porto suficientemente grande para as minhas inquietudes e ansiedades, mas não para a minha totalidade… Porque eu sou maior do que tudo o que possam inventar. As minhas ideias são tão grandes que eles não as compreendem, julgam tratar-se de loucura e temem-nas. Nós as duas sabemos que não o são, mas às vezes não chega.

Às vezes sinto a necessidade de mais alguém o saber. Tu também a sentias, não é verdade? Mas nuca o confessaste a ninguém. Eu confesso! Sinto a falta de um terceiro, de alguém exterior a nós mas que no fundo faça parte de nós; que nos complete e que possa afagar as nossas ilusões, os nossos sonhos. Quem é esse terceiro? Tu não o encontraste. Será que eu o vou encontrar? Ou também vou ter de ir embora sem o conseguir? Será a minha sucessora a grande vitoriosa?

E continuo assim: ciente da minha grandeza mas sem ninguém com quem a partilhar. Talvez seja esse o segredo da grandeza; ser de tal tamanho que não caiba em ninguém mas em muitas pessoas ao mesmo tempo. Fragmento a minha essência e sinto-me, por momentos, completa por esses seres exteriores. Porém, depois sinto a minha falta, a falta de união e tomo consciência que só unida serei quem sou.

Não! Tu não chegaste a perceber isso… Se o tivesses percebido ainda aqui estarias. Estiveste perto e quando percebeste qual o caminho a tomar, tiveste medo e abdicaste. Fizeste nascer outra para o continuar, para o tomar como o seu caminho e guiar uma alma tão forte até ao infinito. Não te culpo por teres tido medo. Compreendo que não era esse o teu destino e aceito o destino que me deste.

Não te culpo, compreendo-te e aceito porque é o que me espera no futuro. Também eu terei medo a certa altura; esperarei compreensão de quem de mim nascer e esperarei que ela aceite o que lhe deixar. Por enquanto eu continuarei, Filipa Moreira, aquela que destronou Andreia FM depois de tantos anos. Vou continuar grande como só eu sei ser! Até que um dia tudo mude…

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